HISTORIADORES

Análise o que os historiadores escrevem sobre Tiradentes:

Trecho retirado do artigo A construção do mito de Tiradentes: de mártir republicano a herói cívico na atualidade do historiador Carlos Roberto Ballarotti


      ...nunca a construção histórica esteve tão presente em nossa nação como na transição da Monarquia para a República. Nesse momento, o poder político sentiu necessidade da criação de valores republicanos na consciência popular, valendo-se, para isto, de uma ideologia que ajudou a construir os símbolos, as alegorias, os rituais e mitos do novo regime (...) Dentre os vários símbolos criados pela República, alguns tiveram a aceitação pelo público, como é o caso do maior símbolo nacional: Tiradentes.

Tiradentes não foi criado pela República, mas sua imagem foi apropriada pelos vencedores, uma vez que o novo regime necessitava de uma figura forte que apagasse o então herói D. Pedro I, a imagem forte da monarquia: “A luta em torno do mito de origem da República mostrou a dificuldade de construir um herói para o novo regime” (CARVALHO, 1990: 55). O herói republicano deveria ser um instrumento eficaz para atingir a cabeça e o coração do povo. Assim, vários foram os candidatos ao preenchimento da vaga no panteão da República. O vencedor do concurso, metaforicamente, foi Tiradentes e não poderia ser outro. A República tratou de conferir um rosto ao herói, pois que o mesmo não deixou um retrato. Assim, criou bustos, quadros, data comemorativa e histórias: Tiradentes pode aparecer como Jesus Cristo (de barba e cabelos compridos) ou elegante e bonito em sua roupa de alferes. A imagem não importava, mas, sim, o ideal que Tiradentes representava e que a República queria alcançar (BALLAROTTI, 2009, p. 202-203).




Trecho retirado do livro A Formação das Almas do autor José Murilo de Carvalho publicado no ano de 1990.


    A luta em torno do mito de origem da república mostrou a dificuldade de construir um herói para o novo regime. Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos (...) como a criação de símbolos não é arbitrária, não se faz no vazio social, é ai também que se colocaram as maiores dificuldades na construção do panteão cívico. Herói que se preze tem de ter, de algum modo, a cara da nação. Tem de responder a alguma necessidade ou aspiração coletiva, refletir algum tipo de personalidade ou de comportamento que corresponda a um modelo coletivamente valorizado (...) No caso brasileiro foi grande o esforço de transformação dos principais participantes do 15 de novembro em heróis do novo regime. As virtudes de cada um foram cantadas em prosa e verso, em livros e jornais, em manifestações cívicas, em monumentos, em quadros, em leis da República. Seus nomes foram dados a instituições, a ruas e praças de cidades, a navios de guerra (p. 56).

Na figura de Tiradentes todos podiam identificar-se, ele operava a unidade mística dos cidadãos, o sentimento de participação, de união em torno de um ideal, fosse ela a liberdade, a independência ou a república. Era o totem cívico. Não antagonizava ninguém, não dividia as pessoas e classes sociais, não dividia o país, não separava o presente do passado nem do futuro. Pelo contrário, ligava a republica a independência e a projetava para o ideal de crescente liberdade futura. A liberdade ainda que tardia (p. 68).

A aceitação de Tiradentes veio, assim, acompanhada de sua transformação em herói nacional, mais do que em herói republicano. Unia o país através do espaço, do tempo, das classes. Para isso sua imagem precisava ser idealizada, como de fato foi. O processo foi facilitado por não ter a história registrado nenhum retrato, nenhuma descrição sua (...) a tentativa de tentar transformar Tiradentes em herói nacional, adequado a todos os gostos, não eliminou totalmente a ambiguidade do símbolo. O governo republicano tentou dele se apropriar, declarando 21 de Abril feriado nacional e, em 1926, construindo a estátua em frente ao prédio da câmera (p. 71).

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